O primeiro mistério destas imagens é a garota retratada, Christina. Presume-se que fosse a filha do fotógrafo, Mervyn O'Gorman, um ilustre engenheiro britânico que fez esta série de fotos em 1913 usando a técnica do autocromo, no início da fotografia em cores. Mas Colin Harding, curador do National Media Museum, que manteve as fotos em exposição junho, conta que a história é muito menos clara do que parece: “A verdade é que não sabemos quem foi Christina. Não há nenhum registro que confirme que o tenente-coronel Mervyn O'Gorman e sua mulher, Florence, tenham tido uma filha. Há um recenseamento que registra o nome Christina O'Gorman, nascida em 1890. Isso coincide com a idade da modelo das fotos, e sabemos que Mervyn O'Gorman tinha laços familiares irlandeses. É bem possível que fosse uma parente, mas não temos como saber com certeza”.
A paisagem onírica que cerca Christina em várias das fotografias é uma praia de Lulworth Covet, em Dorset, condado britânico ao Sul em que nasceram pessoas ilustres, como o romancista e poeta Thomas Hardy.
Apesar de seu talento como fotógrafo, Mervyn Joseph Pius O'Gorman ficou na história como um dos engenheiros aeronáuticos mais brilhantes da Inglaterra. Nascido na Irlanda, O'Gorman dirigiu a precursora da RAF [a força aérea britânica] durante a Primeira Guerra Mundial. O'Gorman não se levava particularmente a sério como artista da fotografia: “É muito curioso que O'Gorman não fosse fotógrafo profissional ou membro de uma sociedade de fotografia. Era um amador entusiasta, e é possível que este interesse pela técnica do autocromo tenha sido mais fruto de sua paixão pelas inovações tecnológicas que por suas aspirações artísticas. Isso mesmo tendo publicado um livro de poesia e perseguido outros objetivos artísticos durante sua vida", explica Colin Harding, curador do National Media Museum.
A técnica usada por O'Gorman para imortalizar sua filha em cores em 1913 foi o autocromo. O segredo para conseguir o milagre eram placas de vidro cobertas de grãos de fécula de batata de tamanho microscópico tingidos de vermelho, verde e magenta. Ao tirar a foto, a luz atravessava esses filtros e atingia a emulsão fotográfica para produzir a imagem colorida. A qualidade onírica transmitida por estas imagens é, na opinião de Colin Harding, provavelmente acidental: “É mais uma questão técnica que una decisão artística. A técnica do autocromo gerava linhas suaves, não duras. Além disso, exigia maior tempo de exposição, o que acentuava este efeito. É isso que dá às imagens do autocromo características impressionistas. E que o tema seja uma mulher sozinha numa praia acentua este efeito”.